Lúpus por Dra Evelin Goldenberg
Comum em mulheres jovens, essa doença não é mais impedimento para a gravidez
Nove em cada dez pessoas que sofrem de lúpus eritematoso sistêmico são mulheres, a maioria entre 20 e 45 anos
de idade, portanto em plena idade fértil. Se antes as pacientes eram desaconselhadas a engravidar, hoje
o controle adequado possibilita a realização deste sonho. Avanços no diagnóstico e tratamento melhoraram
a detecção e o manejo desta enfermidade, que afeta 200 mil brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira
de Reumatologia, mesmo assim permanece desconhecida por boa parte da população.
Uma importante evolução aconteceu em 2014, com a aprovação do primeiro medicamento biológico específico para
tratar lúpus, mais de 50 anos depois do advento dos corticoides. O anticorpo monoclonal belimumabe é administrado
por infusões com bastante segurança e efetividade em casos específicos. Outros medicamentos biológicos vêm sendo
estudados e em breve poderão auxiliar no tratamento desta doença. Evidentemente, tratamentos convencionais
também são usados e continuam produzindo bons resultados.
O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune: decorre da ativação do sistema imunológico, que passa a
produzir anticorpos contra estruturas do próprio corpo. O processo inflamatório resultante agride a pele, e
pode se estender a outras áreas, como articulações, vasos, rins, cérebro, pulmões e coração. Assim, essa patologia
tanto pode ter formas leves quanto graves. Surge em quem tem predisposição genética, desencadeada por infecções,
uso de certas medicações (inclusive pílulas anticoncepcionais), exposição à luz ultravioleta, períodos de estresse e alterações
hormonais (há uma n&iacu te;tida relação com o hormônio feminino estrógeno).
Uma das áreas mais afetadas é a pele, onde produz vermelhidão após exposição ao sol. Em quase metade dos casos aparece uma
lesão avermelhada em forma de asa de borboleta no dorso do nariz e nas bochechas. Pode haver queda de cabelo, geralmente reversível,
e a presença de úlceras nas mucosas. Outros sintomas bastante comuns são fadiga, perda de peso, febre e, às vezes,
coceira no corpo, muitas vezes confundida com alergia.
A inflamação das articulações acontece em 95% dos pacientes, ocasionando dor nas juntas, inchaço e rigidez nas mãos,
punhos ou joelhos, de ambos os lados do corpo. Ocorre, também, a inflamação dos vasos sanguíneos (vasculite),
que pode ser interpretada erroneamente como alergia. Ainda pode causar anemia, além de queda dos glóbulos brancos
e das plaquetas, vir a inflamar os tecidos que revestem o pulmão e o coração, afetar o cérebro (com manifestações
como depressão, psicose e convulsões) e comprometer a função renal. O tratamento procura evitar essas complicações.
O diagnóstico do lúpus evoluiu: hoje é feito com o auxílio de testes sanguíneos que identificam a presença de
anticorpos específicos. Alguns novos, como o anticorpo contra o nucleossomo, colaboram para a detecção precoce da doença.
Também deve ser pesquisada a presença do anticorpo antifosfolípide, sobretudo na gravidez, já que pode causar abortamento
de repetição, além de aumentar o risco de trombose.
O tratamento começa com a conscientização do paciente e prevê o uso de medicamentos que variam conforme a gravidade
e o tipo de manifestação clínica. Certos fármacos podem ser utilizados durante a gestação, enquanto alguns são
contraindicados durante esse período – daí a importância do acompanhamento médico. Aliás, todas as pacientes com
lúpus que estiverem grávidas devem ser acompanhadas muito de perto tanto pelo obstetra quanto pelo reumatologista.
Entretanto, vale salientar que as mulheres não devem eng ravidar se a doença estiver fora de controle. Logo, um bom
relacionamento com seu reumatologista é fundamental para avaliar o melhor momento para a gestação.
Fora o biológico já citado (belimumabe), há vários outros em estudos, que foram apresentados na última reunião da
Liga Europeia contra o Reumatismo (EULAR 2017), em junho, e devem ampliar o arsenal terapêutico. Além disso,
recomendam-se cuidados, dentre os quais, uso de protetor solar adequado, dieta equilibrada e rica em cálcio,
condicionamento físico bem orientado, administração do estresse e controle de fatores de risco como obesidade,
hipertensão arterial e tabagismo para afastar o risco de complicações cardíacas.
O essencial é consultar logo um bom reumatologista.