FIBROMIALGIA: QUANDO TUDO DÓI
Se você tem dor, fadiga, distúrbios do sono, distúrbios de memória e concentração e uma sacola de exames todos normais ou que não justificam seu quadro, pense… você pode ter fibromialgia.
Dores reais, debilitantes e persistentes caracterizam essa síndrome, que ataca 2,5% da população, na proporção de quatro mulheres para cada homem. Tamanho é o desconforto que o paciente não consegue precisar sua origem, diz que dói tudo. Como não deformam, não matam, nem produzem “cara de dor”, isto é, a pessoa não fica pálida e suando frio como em caso de cólica renal, as dores custam a ser valorizadas, mesmo prejudicando muito a qualidade de vida. A incompreensão – de familiares, amigos e às vezes até dos profissionais da saúde – agrava o sofrimento. Mas há luz no fim do túnel. Embora não tenha cura, o tratamento adequado mantém os sintomas sob controle.
A fibromialgia resulta de amplificação dolorosa: alterações nos neurotransmissores envolvidos na percepção e alívio da dor vão deixando o sistema nervoso tão sensível que ele passa a responder de forma exagerada ao menor estímulo. Alguns pacientes reagem mal a um simples toque. As crises podem ser deflagradas por stress físico (trauma, cirurgia) ou emocional
(ansiedade, depressão), processos infecciosos, perdas prolongadas de sono e grandes flutuações hormonais.
O diagnóstico é exclusivamente clínico. O Consenso Brasileiro de Fibromialgia, assinado em 2010, estabelece como critério o número de áreas em que o paciente teve dor durante a última semana, de um total de 12, que incluem braços direito e esquerdo, mandíbula direita e esquerda, abdômen, tórax, coluna lombar, coluna dorsal e cervical, bem como a gravidade de sintomas, como fadiga, sono não reparador, distúrbios cognitivos (como déficit de memória e concentração), além da presença de muitos ou poucos sintomas somáticos, de uma grande lista que abrange dor muscular, síndrome do intestino irritável, formigamentos, tonturas e dores de cabeça.
Os sintomas precisam estar presentes por pelo menos três meses e o paciente não deve ter uma doença capaz de explicar a dor. O estado emocional e o impacto das queixas sobre a qualidade de vida também devem ser avaliados. Exames complementares ajudam a excluir outras hipóteses, mas no caso da fibromialgia costumam dar resultados normais. O que realmente faz a diferença é a história bem apurada e o exame clínico bem feito. Sendo assim, consultas rápidas baseadas em laudos de exames não possibilitam o diagnóstico.
O tratamento consiste em um pacote de medidas. A principal é a orientação do paciente. Prevê o uso de medicamentos, como antidepressivos, neuromoduladores, relaxantes musculares, indutores de sono e analgésicos. Uma das grandes novidades discutidas em congressos médicos é a infusão de um analgésico potente, a cetamina, para alívio das dores e melhora da depressão. O pacote ainda inclui exercícios físicos muito bem orientados (do contrário podem agravar a dor), fisioterapia, psicoterapia (quando o stress emocional tem peso considerável), meditação e acupuntura. O mais importante é contar com o acompanhamento de um bom reumatologista. Deste modo, é possível viver bem com a fibromialgia e apesar dela.