Chikungunya: Essa infecção transmitida por mosquito pode mimetizar a artrite reumatoide ou favorecer o aparecimento dela.
Em 2016, o Brasil registrou quase 2 milhões de casos de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. A mais conhecida,
a dengue, é também a mais grave: pode causar hemorragias e levar à morte. A zika provoca microcefalia em bebês e
complicações neurológicas também em adultos. Já a chikungunya causa inchaço nas juntas e dores articulares
que podem se tornar crônicas. Nosso clima tropical favorece a proliferação do mosquito, mas a
dificuldade de acesso à água limpa e o saneamento precário em várias regiões do país exacerbam
os surtos, alertaram ativistas da organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch, em julho.
A chikungunya chama a atenção pela semelhança com artrite reumatoide, doença em que o sistema
imunológico ataca as articulações. Em swahili, um dos idiomas falados na Tanzânia, chikungunya
significa “aqueles que se dobram”, numa alusão à aparência curvada dos pacientes atendidos na primeira
epidemia documentada, que ocorreu naquele país do leste da África, em 1952. Os registros mais recentes
mencionam um surto no Quênia, em 2004, que se propagou por ilhas do Oceano Índico até alcançar a Índia,
a Indonésia e vários países do Oriente. O vírus chegou ao Ocidente em 2013 e, em menos de dois anos,
atingiu cerca de 1,6 milhões de pessoas em 45 países. Segundo informação do Ministério da Saúde,
em 2016 os casos de infecção por esse vírus no Brasil aumentaram 606% em relação ao ano anterior.
Sintomas
Os sintomas iniciais da chikungunya se parecem com os da dengue e da zika: febre, dor de cabeça, dor
nos músculos e nas articulações, o que dificulta o diagnóstico. A diferença é que a febre geralmente é
elevada, de início súbito, e pode durar até dez dias. Fora isso, mais de 70% dos infectados pelo vírus
chikungunya desenvolvem sintomas. Em 90% dos doentes, o vírus causa inflamações nas articulações dos
joelhos, tornozelos, punhos e dedos, com fortes dores, inchaço, rigidez matinal, vermelhidão e calor,
em ambos os lados do corpo. Também é comum vermelhidão na pele com erupções ou úlceras, conjuntivite
e às vezes náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, especialmente nas crianças, que assim como os
idosos tendem a apresentar sintomas mais intensos.
Passada a fase aguda, diversos pacientes continuam sentindo dores articulares debilitantes por meses ou anos.
Em um estudo realizado na Ilha Reunião, no Pacífico, três meses após a infecção aguda, cerca de 80 a 93% dos
pacientes ainda referiam dor nas articulações e, após dois anos, 47% tinham envolvimento articular crônico
semelhante ao de outras doenças reumáticas, sobretudo a artrite reumatoide, mesmo sem a existência prévia
dessa enfermidade. Cientistas da Universidade de Washington (EUA) levantam a possibilidade de que o vírus
estimule o sistema imunológico a atacar as articulações, desencadeando essa doença autoimune.
Mas, por enquanto, ainda não se sabe com certeza se o vírus vem a deflagrar essa enfermidade ou produz
outro tipo de artrite crônica que se manifesta de maneira similar à artrite reumatoide.
Seja como for, o tratamento da doença articular decorrente da infecção pelo vírus chikungunya é o
mesmo instituído para quem tem artrite reumatoide. Utilizam-se fármacos como cloroquina e metotrexato
e se cogita, inclusive, o uso de medicamentos biológicos. Na fase aguda da infecção, são prescritos
antitérmicos, analgésicos e anti-inflamatórios, para alívio dos sintomas.
O fundamental é procurar um médico assim que apresentar sinais sugestivos. E, claro, praticar as medidas de
prevenção: usar repelentes, roupas de mangas largas, calças compridas, mosquiteiros e, o principal,
eliminar criadouros do mosquito.